Somos sonhos de Deus

Nossas vidas são um sonho de Deus. Tudo o que experienciamos, vemos e sentimos é uma manifestação da Consciência Suprema, da Mente Universal, da Unidade além das divisões e separações aparentes.

Todas as coisas estão interconectadas e são expressões da mesma realidade fundamental. A sensação de separação é apenas uma ilusão que encobre a verdadeira natureza una.

A sensação de separação é o véu ilusório das construções mentais. 

Superar a ilusão e integrar-se à consciência do Todo é a busca central por experienciar a verdadeira natureza da realidade. 

Os véus são as “bolhas de significados” que criamos em torno de nós ao buscarmos compreender a natureza interna e externa da realidade em que emergimos. Ela é a narrativa de fundo que conta continuamente a história de nossas vidas. São as crenças que nos ajudam a interpretar, compreender e nos relacionar com a experiência de existir. 

Essas construções, foram criadas para proteger o eu, dar sentido ao mundo e ajudá-lo a navegar na realidade. No entanto, ao mesmo tempo que são úteis nesse contexto, também obscurecem a visão. O eu, ao tentar proteger, definir e afirmar-se, cria uma barreira à experiência direta e pura da realidade.

Do mesmo modo que um sonho é composto por uma série de eventos e narrativas que parecem reais enquanto estamos nele, a construção do eu pode parecer a realidade até que seja vista além. Nesse sentido, a busca do despertar, é acordar desse sonho construído pelo eu e compreender a verdadeira natureza da realidade emanada pelo Eu Supremo. Em vez de ser uma entidade separada vivendo em um mundo externo, passa-se a reconhecer a si mesmo como uma expressão intrínseca dessa realidade divina.

Questionar “Quem sou eu?” e contemplar a verdadeira natureza do eu pode levar à realização de que o eu individual é idêntico à realidade universal.

Dentro de nós, reside uma força, o ego, que busca ter sua própria história para contar. Com suas habilidades, ele constrói uma “bolha de significados”, esculpindo um mundo de histórias, crenças e percepções que nos ajudam a entender e interpretar nosso entorno. No entanto, esta criação, apesar de útil, muitas vezes age como uma cortina, separando-nos da percepção da realidade.

No mito da caverna, apresentado no livro “A República” de Platão, as pessoas estão acorrentadas dentro de uma caverna, desde o nascimento, voltadas para uma parede. Elas só veem as sombras projetadas naquela parede, criadas por objetos que estão atrás delas e iluminados por uma fogueira. Por só verem as sombras na parede, estas tornam-se toda a realidade para essas pessoas. Um dos prisioneiros liberta-se das correntes e descobre o mundo fora da caverna, percebendo que as sombras da caverna eram apenas representações distorcidas da realidade. Ao retornar e buscar informar os outros, ele é ridicularizado e rejeitado.

Aqueles que estão acorrentados na caverna e veem apenas as sombras projetadas pela fogueira vivem em uma realidade distorcida e limitada. Aqui, a fogueira representa a consciência individual. Essa luz, enquanto revela, também esconde, projetando sombras que são meras representações da verdadeira realidade. A jornada de libertar-se, para fora da caverna, em direção ao sol, representa o despertar para uma consciência mais elevada, uma visão mais direta e verdadeira da realidade. Além da consciência aprisionada pelo eu.

A busca do despertar, é uma busca para ver além dessas sombras e ilusões. É uma busca pela verdadeira luz, pela consciência que percebe não apenas as sombras projetadas pela fogueira de nossa bolha de significados, mas se relaciona com a verdadeira luz da consciência divina, que forma e une, tudo que existe.

Transcendendo as construções da mente e experimentando a realidade em sua totalidade, reconhecendo a conexão com o Todo, a Consciência Suprema que permeia tudo.

Aprendendo a diferenciar aparência e realidade, em busca do conhecimento verdadeiro. O mundo que percebemos com nossos sentidos é apenas uma cópia imperfeita do mundo verdadeiro. 

A luminosidade da mente é a natureza clara e pura da consciência que ilumina os significados de tudo que percebemos. A fogueira, neste contexto, pode ser vista como essa consciência inicial que nos permite ver e conhecer o mundo, as pessoas e nós mesmos. No entanto, assim como a fogueira projeta sombras na caverna, essa consciência inicial nos leva a percepções distorcidas ou limitadas.

O sol representa a verdade suprema. Ao sair da caverna e ver o sol, o prisioneiro libertado está experimentando uma forma mais pura e direta de conhecimento ou consciência. Um despertar para a realidade mais fundamental, além das sombras ou distorções.

A verdadeira jornada é, então, uma busca pelo despertar. Um movimento além das sombras projetadas, em direção à luminosidade da consciência divina. Pois, no fundo, a realidade não é uma entidade externa a ser descoberta, mas um reflexo da divindade que reside em cada um de nós.

Reconhecer que cada um de nós é uma gota no oceano da Consciência Suprema. Ao questionarmos, contemplarmos e buscarmos além das limitações autoimpostas, somos capazes de perceber que não somos apenas gotas separadas, mas o próprio oceano. E assim, no silêncio que se segue ao despertar, encontramos não apenas a nós mesmos, mas também a tudo o que existe.